quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Difundindo os princípios da ideologia punk

Conheça Jacques Zoopatia, jornalista que registra a memória do underground cariaciquense

Adepto do “faça você mesmo", ativista preserva a história dos movimentos culturais da cidade

Texto: Coletivo Cariacica Underground, Cariacica/ES


Jornalista, escritor e produtor cultural, Jacques Mota, conhecido como Jacques Zoopatia, assume o “faça você mesmo” para elaborar projetos e registrar o movimento cultural underground cariaciquense. Seu objetivo é garantir a continuidade da cultura urbana de rua, registrando e difundindo os princípios da ideologia punk do "do it yoursel". Contando com recursos próprios e de seus colaboradores, o jornalista e escritor utiliza softwares gratuitos, câmeras e máquinas fotográficas semiprofissionais, e celulares de alta resolução para realizar seu trabalho.

Sua inspiração e influência vem do movimento punk, que traz o “faça você mesmo” como ferramenta e atitude de vida diante do mercado da cultura. Desta forma, Jacques Zoopatia orienta artistas a produzir sua própria arte. De acordo com ele, a fórmula se aplica muito bem aos movimentos musicais, literários e audiovisuais.

“A fórmula ‘faça você mesmo’ é capaz de levar o artista a acreditar ainda mais em seu trabalho e reconhecer nas ferramentas tecnológicas que estão a sua disposição o manancial necessário para sua produção, além, é claro, do seu talento, que é potencializado por essa prática. O acesso de certa forma facilitado à tecnologia possibilitou a produção de documentários, filmes de ficção, vídeo-clips, além da edição e publicação de livros por seus próprios autores, então 'do it yourself'. Mas quem mais pode se beneficiar do ‘faça você mesmo’, em minha experiência, são os movimentos musicais, que podem produzir seu trabalho a partir de um computador básico, algo impensável nos anos 80 e 90”, afirma.


Inspirações
Jacques Zoopatia é graduado em jornalismo, o que o levou direto ao movimento underground de sua geração, conhecendo a ideologia punk do “faça você mesmo”, passando a ser um de seus representantes. Segundo o jornalista, o registro da cultura urbana de rua do município, que está em parte acumulado no blog Palhetadas do Rock, inspira artistas e oferece as memórias da cena punk e underground da cidade cariaciquense.

“O trabalho do Jacques serve de pesquisa para artistas de todas as áreas. A maneira como ele movimenta a cena underground, através da criação e motivação de coletivos culturais baseados na ideologia do ‘faça você mesmo’ inspirou a mim e a muitos outros artistas e coletivos”, comenta Paulo Henrique de Oliveira, ator e diretor de teatro e membro fundador da Federação Anarquista Capixaba.

Paulo Henrique de Oliveira também é remanescente do movimento underground da década de 80 e representa os valores do "do it yourself", questionando os modos de vida de nossa sociedade através do teatro e dos movimentos sociais de que participa.


A cena punk no ES
A história do underground capixaba é expressa principalmente pela história dos movimentos musicais heavy metal e punk, sendo Cariacica reconhecida como “celeiro do rock” pelo historiador Alberto Vidal. Os movimentos heavy metal e punk de Cariacica foram relevantes para todo o Espírito Santo, sendo hoje ressignificados pela atual cena underground. Na década de 80, grupos musicais como Guerrilha, Zoopatia e RHC, e o Grupo Motim de Teatro foram reconhecidos como representantes da contracultura local, trazendo novos acordes, estéticas e bandeiras políticas como a defesa do meio ambiente, a igualdade entre os gêneros e a crítica ao capitalismo.

Jacques Zoopatia acredita que os atuais movimentos culturais de rua ainda repercutem aquelas manifestações, por isso busca documentar suas expressões por acreditar em sua importância para a compreensão de toda uma época de produção cultural.

“Os movimentos heavy metal e punk continuaram nos anos 2000 e 2010, porém numa outra roupagem, mas o punk foi o único que continuou ativo em suas bandeiras políticas, porque o movimento heavy era vazio em ideologia. Nossa meta é reconstituir parte da memória daqueles períodos até o período mais recente da história do município. Na verdade, trata-se de acompanhar e documentar a transformação da cena underground”, explica Jacques.

Autor de obras literárias, audiovisuais e fotográficas, Jacques Zoopatia participou da criação dos coletivos Cariacica Underground e Faça Você Mesmo (audiovisual), incentivou e articulou a construção conceitual do Espaço Cultural Chamusquin, e foi membro fundador do Cineclube Ambiental e da Academia Cariaciquense de Letras. Jacques também é um dos editores do blog cultural Palhetadas do Rock. Em todos esses trabalhos, Jacques Zoopatia registra e socializa parte da história do underground cariaciquense.



Luta antifascista, antirracista e anticapitalista
Jacques Zoopatia acredita no poder da cena cultural como alavanca de movimentos políticos importantes como as lutas antifascista, antirracista e anticapitalista das quais faz parte e vê no movimento punk da década de 80 o gérmen da conscientização política dos ativistas de hoje, o que justifica o esforço em registrar e documentar a história do underground, ampliando a cultura do “faça você mesmo” como forma de conscientização.


“Eu sempre acompanhei e participei dos movimentos punk e anarcopunk capixabas, acompanhando a ideologia e sua movimentação e participando diretamente através da cena musical com a banda Zoopatia, da qual sou fundador. Esses movimentos culturais sempre questionaram o status quo e nunca se renderam ao mercado e a sua pasteurização mental, que ainda hoje persiste. Foram e são movimentos contraculturais de ponta, pois já na década de 80 levantavam as bandeiras da antihomofobia e da igualdade de gênero. Nossa postura sempre foi de tentar transformar a sociedade em algo melhor para todos e sempre fomos contrários às arbitrariedades do capital e do estado, e dos modos de vida que representam”, afirma Jacques referindo-se ao que denominou de “momento desastroso da política”.

Como resultado da construção e reconhecimento do underground, Jacques Zoopatia cita a inserção de representantes da cena em movimentos culturais mais amplos, como na criação da Academia Cariaciquense de Letras, que tem importantes ativistas da cena local, como Edival de Souza, o Chamusquin, e Jefferson Araújo, poeta e escritor, e na representação junto ao Conselho Municipal de Cultura, através dos ativistas Danilo Debona e Paulo Henrique de Oliveira, o Linguiça, todos repercutindo ideias e modos de vida libertários para além das fronteiras do underground.

Edição: Palhetadas do Rock

terça-feira, 16 de agosto de 2022

As mazelas do falso progresso

Ambientalista e ator de teatro, Paulo Henrique de Oliveira constata a persistência das mazelas do falso progresso

Ativista relata o reencontro com velhos amigos depois de mais de 30 anos de militância anti-petróleo

Apresentação: Coletivo Cariacica Underground, Cariacica/ES

Concepção artística dadaísta criada por Paulo Henrique,
especialmente para esta publicação


NEM UM POÇO A MAIS!
not one more well!
nie nog een put nie!
ikke en brønn til! nicht mehr gut!
ليس جيدا lays jayidan!
ούτε ένα πηγάδι ακόμα!
oúte éna pigádi akóma! 
没有一个更好 
Méiyǒu yīgè gèng hǎo! 
ni uno mas bien! 
ne unu pli boné! 
pas un bien de plus! 
не один колодец ne odin kolodets!

Uma alegria acompanhada de tristeza
Texto de Paulo Henrique de Oliveira (Linguiça)

Quando o chamado da resistência ANTI-PETROLEIRAS estrugiu, a nossa felicidade e satisfação era vista à distância. Isso aconteceu no VII Seminário Nacional da Campanha “NEM UM POÇO A MAIS”, realizado de 4 a 7 de agosto de 2022, na cidade de Piúma, no litoral do Espírito Santo. Estar nesse seminário foi amplificar a continuidade da nossa constante luta contra o corte da navalha capitalista.

Na cidade de Piúma, nos deparamos com as mais novas denúncias de violações ao meio ambiente e vida humana, “a grande obra”, uma pintura de óleo sobre sangue, com violações cometidas pela cadeia do petróleo e seus tentáculos portuários onde o arco-íris nunca mais há de brilhar.

Mais uma vez não queremos assistir à morte desfilando com seu carro desgovernado com um louco e sanguinário gritando “morte, destruição, caos, fim”, essa tragédia deixa dores profundas onde sonda nenhuma será capaz de alcançar! Nós que estamos aqui lendo esse texto, escapamos por pouco desta roleta da morte, mas ainda somos alvos fáceis e frágeis diante das geringonças do petróleo, lideradas pelas multinacionais e pelos políticos sanguinários e sádicos que se embriagam do petróleo para impor dor, sequelas e morte aos povos tradicionais que sobrevivem do meio ambiente e são, em sua essência, guardiões do ecossistema.

Na campanha “NEM UM POÇO A MAIS”, tivemos o privilégio de rever seres humanos incríveis, gente de luta, pessoas que há décadas vivenciam de perto, todo santo dia, a morte e a destruição de seus lugares pela indústria petrolífera, mas essas pessoas continuam firmes na luta, combatendo os capitães do mato contemporâneos, mesmo com tantas adversidades e perda de companheiros(as) por conta dos cifrões $$ e da barbárie.

Mas seguimos mulheres negras, indígenas e ribeirinhas, camponesas, pescadoras, gente das periferias que se recusam a participar das engrenagens da morte e da destruição onde as guerras são sempre UM POÇO A MAIS.

Na luta contra as geringonças tecnológicas do petróleo, seguiremos vivos e ativos nos seminários, nos encontros, nas frentes de batalha, cantando, dançando, encantando, gritando, ensinando, aprendendo, chorando e sorrindo, e festejando, buscando forças no íntimo do nosso sagrado para que continue dando força, paz e sabedoria para enfrentar e combater as injustiças e crimes das indústrias poluidoras que se multiplicam com os algozes do petróleo.

O sentimento é de agradecimento em estar nesse VII Seminário e fazer parte dessa importante luta por um mundo livre de petróleo, mas cheio de energia positiva como a energia empenhada na construção da campanha “NEM UM POÇO A MAIS”, para que as próximas gerações possam conhecer animais terrestres e peixes não só em zoológicos ou aquários e tanques de tilápias engordadas por fertilizantes.

+Em memória do meu camarada Seu Curumba, falecido sem ter recebido da Petrobrás o que lhe era de direito, a qual degradou suas terras com 13 poços de petróleo (ver documentário em Seu Curumba, o sheik pobre).

Reflexão dedicada a Raoni de Oliveira, Andreza Damaceno, Marcelo Calazans, Marcos Palinha, João Quilombola, Antônio Sapezeiro, Federação Anarquista Capixaba (FAC), lideranças de comunidades e organizações representativas da pesca artesanal, quilombolas, indígenas, camponeses, sem terras, pesquisadores, agentes de pastorais, grupos de mulheres e LGBTQIA+, jovens e anciãos, acadêmicos, artistas, mulheres negras, artesãs, ambientalistas, organizações de defesa de direitos humanos, movimentos sociais, redes e fóruns regionais da sociedade civil brasileira. Muita gente, de 6 estados do Brasil (MA/PE/SE/BA/ES/RJ), da Argentina e de Angola.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Ativista cultural cariaciquense participa de festival internacional

Ativista cultural cariaciquense participa de festival internacional


O ativista cultural Edmar Joaquim da Silva, o Mestre Ferreiro de D'Jah, 64, radicado em Cariacica, participou do 13º Festival Internacional do Chocolate e Cacau, o Chocolat Bahia 2022, realizado na cidade de Ilhéus, no período de 21 a 24 de julho de 2022.

O evento é considerado o maior da América Latina e representa uma das maiores riquezas do Brasil, o cacau.

Ferreiro D'Jah foi uma das atrações do encontro na parte cultural onde apresentou performance de dança do gênero primitivo-contemporâneo, baseada em ritmos ao sons de canto de pássaros e sons de chuva, além da 5ª Sinfonia de Beethoven.

Sua participação no evento teve o apoio do presidente da Academia de Letras de Ilhéus, Pawlo Cidade, e de outros artistas e intelectuais baianos.

Além da participação no Chocolat Bahia 2022, Mestre Ferreiro D'Jah, apresentou sua performance na 5ª Festa Literária da Academia de Letras de Ilhéus, que teve a presença da filósofa Viviane Mosé. Na oportunidade, Mestre Ferreiro D'Jah presenteou a filósofa com a camiseta do congo de máscaras de Cariacica.


Nas palavras do ativista cultural Edmar Joaquim da Silva, sua ida para Ilhéus foi a busca de um sonho a realizar.

"Participar de uma mostra literária e um festival internacional na Bahia, foi super gratificante. Conheci pessoas de vários aspectos, pensamentos e ideias, com 'gosto de gás' e a garra de um povo feliz e alegre. Tive contato com profissionais que amam a arte e a cultura popular, como poetas, bailarinos e artistas do circo, vários segmentos de paz e amor. Minha despedida da Bahia marca minha volta para um povo de cultura igualmente forte, a cultura do congo, ticumbi, jongo e capoeira do Espírito Santo", reflete o Mestre.


Mestre Ferreiro D'Jah ficou na cidade de Ilhéus por 17 dias e sua ida teve o apoio de vários artistas e intelectuais de Cariacica, recebendo naquela cidade o mesmo apoio em sua chegada, que o faz expressar agradecimentos a Paulo Índio (vereador do PCdoB), Samira Andrada (de nacionalidade argentina), Pawlo Cidade, Paulo Henrique de Oliveira (Linguiça), mestre de capoeira Aldeci Beiçola, Dona Rosângela Sarandi, mestre de capoeira Jefinho e equipe, seus filhos Gerdane, Andreza, Rayza e Edmar Junior, Meirivan Báfica (membra do PCdoB), Ted da Gráfica Cariacica, Jacques Douglas (presidente da Academia Cariaciquense de Letras), amigos e vizinhos.


A viajem de Edmar foi financiada com recursos próprios e seu deslocamento foi facilitado pela gratuidade na passagem de ônibus interestadual. Edmar agradece especialmente aos membros do PCdoB do Espírito Santo e do Sul da Bahia pelo reconhecimento de seu trabalho e apoio, e agradece a Deus pela força e fé que carrega consigo.

As Palhetadas são do rock e apoiam nossos artistas populares.

Do seu editor do underground cariaciquense.