Nasce o Zoopatia
Crônica 03
Na década de 80 o acesso à informação, comparado aos dias de internet, era bem diferente.
Lembro-me que em 1996, quando estava me formando em jornalismo na Ufes, precisei utilizar os serviços do laboratório do departamento de Física, um dos mais avançados em informática no Campus, para enviar um simples e-mail a um jornalista em Brasília.
E isso já era em meados da década de 90!
Quem me ajudou nessa tarefa foi o punk velho Márcio Malacarne, então estudante de física na Ufes.
Mas voltando aos anos 80, para nós, roqueiros, aquelas revistinhas de cifras de MPB e rock não contemplavam nossa curiosidade, mas era só o que tínhamos.
Quem era guitarrista, ou queria ser, não se contentava com simples cifras. Não queríamos tocar violão, mas sim guitarra elétrica com muita distorção e microfonia.
Queríamos escalas, tablaturas, técnicas, riffs poderosos...
Nesse caso, só mesmo por meio de "contrabando cultural" direto dos grandes centros como o Rio de Janeiro ou BH, através de amigos, acreditem...
Um amigo chegado tinha um outro amigo que tinha um primo que ia ao Rio de Janeiro e trazia pra ele as tais escalas e sequências de exercícios. Daí eu também tinha acesso.
Havia conseguido umas boas escalas e teoria nos livros de Almir Chediak, raridades na época, só disponível na biblioteca da Ufes.
Era mesmo difícil, mas todo esforço compensou pois essas informações influenciaram muito minhas composições. Foi por isso que inovamos o punk rock do Zoopatia...
Dá pra perceber que meu percurso até o underground começou ao contrário, de casa pra rua e não da rua pro mundo. Fui levado ao submundo do rock pela música...
Não usava coturnos, camisetas de bandas, cabelo arrepiado, tatuagens, nada disso. Não panfletava, não sabia o que era um zine e nem participava de movimentos políticos. Pelo contrário, sempre fui muito “arrumadinho”, nada punk, sequer suburbano.
Até hoje sou assim, apenas eu mesmo, estudante "toda vida" e independente, sob a influência da academia mas com muita prática social...
Talvez por isso Edmo Candotti não tivesse acreditado em mim nos primeiros contatos, porque tempos depois ele mesmo disse que só aceitou minha proposta para tocar na banda por que não tinha outra opção...
Disse que eu parecia muito certinho e não tinha cara de guitarrista.
Enfim, entrei na banda.
De cara conheci Noé Filho, baterista, de Vila Velha. Ótimo no instrumento, o melhor baterista com o qual já toquei. Até hoje tenta se livrar das drogas. E o pior é que tudo começou lá, nas barbas do rock...
Edmo e Noé eram figuras destacadas. Sempre com roupas chamativas, vestidos como punks que eram: coturno, camiseta de banda, braceletes, cintos, cabelos tingidos, arrepiados.
Percebi que eram extremamente ativistas do tal movimento, organizando e participando de encontros anarquistas, panfletando, confeccionando zines e fazendo pichações em que demonstravam seu descontentamento com as instituições do Estado e da Sociedade.
Era curioso para mim, aqueles jovens, já tão cedo se rebelando num grito de periferia, de subúrbio, denunciando as mazelas do capitalismo, algo que conhecia apenas na leituras que fazia...
Os ensaios da banda eram na casa de Edmo, em Santa Cecília, do outro lado da BR, sempre com muita bebida e amigos como André, Bob, Claudio, Gean, Mark, Márcio Malacarne, Osvaldo, Paulo Henrique - o Linguiça, e o pessoal de Vila Velha que vinha curtir o som: Gustavo e Léo Aranha.
Foram muitos que curtiram aquelas tardes de final de semana nos ensaios do Zoopatia, ao som de Ramones e The Clash nos intervalos, e é claro, muita cerveja, caipirinha e cachaça...
Nos primeiros ensaios me apresentaram as músicas. Puro hardcore. Pouca definição entre refrão e estrofes. Era tão rápido e barulhento que não dava pra entender nada.
Logo estava tocando as músicas autorais da banda Guerrilha e imediatamente mudei o ritmo, o tempo, as batidas. Inseri notas musicais necessárias e retirei algumas. Compus novos sons, e pronto!
..................................
Registro:
Seguem os links de algumas músicas do Zoopatia com Edmo no vocal, Paulo Moscon na guitarra e Guto Ferrari na bateria...
Na sequência: Edmo, Jacques Douglas, Alex Índio e Léo Aranha em foto num dos rocks do Borracha, em Vila Capixaba, 2007. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
As Palhetadas agradecem!