O poço dos
porcos
um micro conto de Thiago Carminati
Ilustração de Ricardo Campos, projeto Fora de Hora (https://www.facebook.com/projetoforadehora)
No quintal da casa
brincávamos na grama, na areia, na terra, com bonecos de plástico, carrinhos,
um mundo em miniaturas. Lá as mães diziam para tomar cuidado com o poço. Embora
tapado com folhas de zinco e pedaços de madeira, o poço me convidava nas tardes
em que a criançada ia embora. Colocava o ouvido nas frestas para escutar os
barulhos vindos do escuro. Uma vez, apareceu por entre as folhas da figueira um
velho trajado de branco com um olho de vidro me perguntando: “o quê tá fazendo
aí menino?”; “Quero descobrir que barulhos são esses”, e o velho me contou que
eram os porcos. Disse serem dois, um macho e uma fêmea, que para sobreviver no
fundo do poço procriavam com o único intuito de devorar seus descendentes. Os
anos se foram, levando o poço, casas e quintais, deixando avenidas e prédios no
lugar. Só muito mais tarde pude então entender que aquele poço era eu e que
aqueles porcos me habitavam.
Massa! Massa! " Disse serem dois, um macho e uma fêmea, que para sobreviver no fundo do poço procriavam com o único intuito de devorar seus descendentes.
ResponderExcluirLegal, rapaz, comentário nesse naipe incentivam a gente a continuar imaginando... valeu mesmo...
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