quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Carnapunk em Cariacica

Carnaval Punk em Cariacica
Ricardo Amaro, Gustavo Fraga, Oswaldo, Paulo Henrique Oliveira, Julian Oliveira e Juninho, organizadores do Carnapunk em Cariacica

Punks capixabas vão realizar o primeiro encontro de 2015 com o Carnapunk, em Cariacica, dia 7, sábado, no Bar do Gilson, rua Jerusalém, 14, bairro Oriente, Cariacica (rua da Faesa, atrás da prefeitura municipal). No encontro, haverá a apresentação do documentário da americana Tamra Gilbertson, show com bandas punk capixabas, encenação de esquete da peça teatral "O Criminoso" e leituras dramáticas de poesias e crônicas, além de ter a presença maciça dos velhos punks da década de 80.

O Carnapunk deste ano terá as bandas autorais Ferida Exposta, ícone punk capixaba, citada no livro "ABZ do Rock Brasileiro", de Marcelo Dolabela, e a banda Resistência Hardcore, esta em atividade desde 1989, além das bandas A Arma com seu hardcore pesado, e Kiko, vocalista da banda Brígida D'La Penha, violão e voz. A banda A Metamorfose é a única banda cover, e vai tocar Raul.

Paulo Henrique Oliveira com sua banda Resistência Hardcore

O Carnapunk é uma alusão ao Carnaval Revolução que aconteceu na cidade de Belo Horizonte nos anos 2000. Lá foram realizadas seis edições de encontros da juventude anarquista e punk em que debateram temas sociais, políticos e culturais.


Leituras, teatro e documentário

Os anarcopunks Jacques Mota e Leonardo Henrique vão fazer leituras dramáticas de crônicas e poesias de temática punk. Ainda, Paulo Henrique Oliveira, um dos organizadores do evento, fará a encenação de um esquete da peça "O Criminoso", com seu companheiro, ator e diretor de teatro, Ricardo Amaro.

Ricardo Amaro, diretor e ator de teatro, e Gustavo Fraga, guitarrista da banda Resistência Hardcore vão apresentar seus talentos no Carnapunk em Cariacica

O documentário que será apresentado no evento, de autoria da americana Tamra Gilbertson, é fruto de sua vinda ao Espírito Santo em 2014 para prestigiar e registrar as atividades do grupo anarcopunk no 4º Pedal Contra o Pré-Sal. Tamra é membro da ONG internacional Carbon Trade Wathc, ONG que luta contra as mazelas da indústria petroleira. A apresentação do vídeo vai possibilitar o debate do tema e o início do planejamento para o 5º "pedal", que será realizado, desta vez, em direção ao litoral sul do Estado.

Já foram realizados quatro "pedais" para o Norte, todos organizados por pessoas ligadas ao movimento anarcopunk capixaba. Em 2014, os ciclistas pedalaram de Vitória a Regência, em Linhares, conscientizando as comunidades pesqueiras e ribeirinhas dos resultados da exploração de petróleo. Participaram cerca de 25 pessoas.

Outro objetivo importante do Carnapunk é possibilitar a organização das ações que o Movimento pretende implementar em 2015, como as comemorações do Dia do Trabalhador (1º de Maio), realizada todo ano desde 2003 na concha acústica do Parque Moscoso, em Vitória, e os eventos de 7 de Setembro. Nesses eventos sempre há a apresentação de bandas punk, oficinas culturais e integração de variados movimentos urbanos.



ENTREVISTA COM PAULO HENRIQUE OLIVEIRA (LINGUIÇA), UM DOS ORGANIZADORES DO EVENTO

Paulo Henrique Oliveira,
um dos organizadores do
Carnapunk
Palhetadas - O que significa este Carnapunk?

PHO - Este Carnapunk é um embrião do Carnaval Revolução realizado em Belo Horizonte, mas está longe de sê-lo, pelo menos a curto prazo, mas a longo prazo, quem sabe poderemos alcançar aquela dimensão.

Palhetadas - O que vocês pretendem debater nesse dia?

PHO - Pretendemos trabalhar vários temas, principalmente aqueles em que estamos inseridos, como o movimento do pedal contra o pré-sal, que vai para sua quinta edição.

Palhetadas - Como é realizado o pedal?

PHO - O pedal é um movimento que circula o litoral capixaba. Já fizemos quatro vezes para o Norte do estado, agora pretendemos fazer para o sul. São várias pessoas pedalando em prol do meio ambiente, contra a exploração de gás e petróleo, e contra todos os danos gerados pelas petroleiras. Nesse movimento, nós denunciamos esses impactos. Isso nos ajuda a manter a organicidade do Movimento Anarcopunk como um todo.

Palhetadas - Com quais outros eventos vocês estão ligados?

PHO - Um outro evento que realizamos é o "1º de Maio", Dia do Trabalhador, que é uma data em que os punks anarquistas do Espírito Santo já vêm se mobilizando desde do início dos anos dois mil, precisamente 2003. Nós o realizamos no Parque Moscoso. De lá pra cá, foram oito edições.

Palhetadas - O que pretendem alcançar com o Carnapunk?

PHO - Nosso foco principal é esse, mobilizar punks e simpatizantes em torno da questão da degradação causada pela exploração do petróleo em nosso Estado. Vamos exibir o filme/documentário do "pedal" de 2014, feito pela companheira Tamra Gilbertson e debater o tema, planejando o pedal desse ano e preparar o 1º de Maio junto com outros companheiros que compõem essa atividade.

Palhetadas - Ainda existe um Movimento Punk?

PHO - O Movimento Punk ainda expressa muita resistência no Brasil, principalmente em São Paulo e no Sul do país, mas não como era na década de 90 e até meados de 2000. O movimento se fragmentou, mas muitos dos punks estão com outra linha de atuação, em outros movimentos, mas sem perder sua identidade.

Paulo Henrique Oliveira com a

banda Resistência Hardcore no

encontro da Internacional Anarcopunk - IAP,

na cidade de São Paulo, em 2011
Palhetadas - Onde estão os Punks?

PHO - Hoje temos punk no MST, no Movimento dos Sem Teto, no MPL, nas organizações sindicais, em vários movimentos sociais, trabalhando com ONGs... Mas pela decadência de nosso movimento, muitos foram participar de organizações sociais com mais densidade, com mais legitimidade. Mas mesmo assim, tendo nossas questões, nossos problemas, agregamos muitas pessoas que atuam em movimentos de moradia e ocupação. Como o movimento punk em São Paulo, com muita expressão, muita atividade, mobilizando-se contra o aumento das passagens de ônibus, contra o racismo, contra a homofobia, a favor da diversidade. Eles têm várias sedes em São Paulo que são casas ocupadas, tendo muita atuação no meio cultural, como capoeira, bandas de punk rock, gestão de espaços. No Sul do país também temos o Movimento Casa Ocupada e o Quilombo das Negras.

Palhetadas - Mas e o Movimento Punk no ES?

PHO - No ES nosso movimento tem uma proporção das maiores do Brasil, considerando-se o tamanho da capital e a diversidade de pessoas que participam. Infelizmente o dia-a-dia, a dispersão, não possibilita ao Movimento o crescimento desejável, mas quando o pessoal resolve se juntar, como para o evento Carnapunk, o 1º de Maio e o Sete de Setembro, as coisas acontecem, como nas manifestações, como foi no caso do movimento "vem pra rua", onde participamos ativamente. Tivemos uma participação muito importante no debate.

Palhetadas - Como é ser Punk hoje?

PHO - Hoje não atuamos mais como nas décadas passadas, com aquele estereótipo do punk com moicano e correntes. Hoje encontramos o punk como uma pessoa comum também, porque é uma pessoa comum. O "visual" teve um período de decadência, transformando-se num nicho do mercado capitalista. Hoje o punk não precisa ter uma estética, um visual pra ser punk. Deve sim seguir sua ideologia, o seu compromisso. Isso já é o bastante, mas eu ainda preservo muito essa questão do visual, de não usar roupas de marca. Também quem circula em nosso meio mantém essa característica de visual livre de marcas e propagandas, com comportamento anti imperialista e anti capitalista. Apesar de vivermos num mundo capitalista e termos família, tentamos driblar essa condição de "escravos do sistema", tentamos inverter o máximo possível. Então, o punk, aqui, está muito inserido em seu próprio espaço. Temos punks em Vila Velha, uns quatro ou cinco, mas que fazem diferença em seu cotidiano, em Cariacia, na Serra, em Aracruz, em Guaçui, Colatina e Cachoeiro de Itapemirim. Então, não há uma unidade punk forte, mas estamos buscando uma organicidade maior.


CARNAVAL REVOLUÇÃO

O Carnaval Revolução foi um movimento da juventude anarquista e punk no inicio dos anos dois mil. Foram seis edições realizadas na cidade de Belo Horizonte nos dias de Carnaval. Neles era realizado o "Carnaval Revolução" que era divulgado no Brasil e no exterior como um encontro punk e anarquista. Participavam representantes do movimento de bandas de punk rock nacional, do teatro anarquista e simpatizantes. Paulo Henrique Oliveira (Linguiça) participou com o Grupo Motim de teatro, do qual fez parte, no ano de 2002. "Nos dias de carnaval, saíamos fantasiados, com tambores e outros instrumentos acústicos. Mas nosso objetivo era o debate do modo de vida da sociedade consumista", diz. No encontro, refletiam sobre temas globais como questões ambientais, políticas, alimentação, etnias, habitação e a organização do próprio movimento anarcopunk. O evento era preparado pelos jovens ligados ao movimento punk local, como os componentes das bandas Ataque Epiléptico e Desespero, que eram punks anarquistas e vegetarianos. Todas as edições foram realizadas em Belo Horizonte/MG. Os participantes, de todo o Brasil e visitantes do exterior, ficavam alojados em escolas onde eram realizadas várias oficinas culturais e de política social.


ONDE, QUANDO E COMO?

O Carnapunk vai acontecer no dia 07 de fevereiro, sábado, no Bar do Gilson, Rua Jerusalém, 14, bairro Oriente, Cariacica (rua da Faesa, atrás da prefeitura municipal), a partir das 16 horas. Será cobrado ingresso no valor de R$ 5,00. O dinheiro arrecadado será usado para custear a vinda de uma banda punk de São Paulo para apresentar-se no Dia do Trabalhador, no Parque Moscoso, em Vitória.


QUEM É PAULO HENRIQUE OLIVEIRA?

Paulo Henrique Oliveira, 43, faz parte do Movimento Punk capixaba desde o final da década de 80, quando passou a acompanhar as bandas punk da época. Em seu percurso, fez parte da banda Resistência Hardcore e do grupo Motim de teatro. Hoje, atua difundindo políticas sociais sustentáveis, trabalhando em parceria com ONGs e organizações sociais. Paulo Henrique é Técnico de Meio Ambiente.

As Palhetadas agradecem...

TUDO PELO ROCK!

Paulo Henrique Oliveira (Linguiça), vocalista da banda Resistência Hardcore

Paulo Henrique Oliveira no Dia Contra a Mono Cultura no quilombo de Linharinho, em Conceição da Barra -  ato do Novembro Anarcopunk, em 2011

Paulo Henrique Oliveira representou o Movimento Anarcopunk capixaba no Festival de Inverno da cidade de Ouro Preto, em  2010 - foto na galeria tematica Clube da Esquina

Paulo Henrique Oliveira, 43, faz parte do Movimento Punk capixaba desde o final da década de 80, quando passou a acompanhar as bandas punk da época. Em seu percurso, fez parte da banda Resistência Hardcore e

Paulo Henrique Oliveira, anrcopunk desde o final da década de 80

Paulo Henrique Oliveira, o Linguiça

Paulo Henrique Oliveria, vocalista da banda Resistência Hardcore

Ricardo Amaro, Gustavo Fraga, Osvaldo, Paulo Henrique Oliveira e Juninho, organizadores do Carnapunk em Cariacica