quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Cariacica Punk - Crônicas



Cariacica Punk



Crônicas







Tudo bem!



Assumimos e os registros não mentem: fomos forjados na década de 80, vivemos nossa adolescência nessa época...

A decadência da ditadura, a eleição de Tancredo Neves, a constituinte de 88 e o risco de um novo levante militar.


Fora do universo político e dentro da nossa realidade, tínhamos as discotecas, os toca-fitas e depois os auto-reverse, uma evolução.

Tínhamos os aparelhos de som 3 em 1, os vinis e os desenhos animados de Hanna-Barbera, a Rede Manchete e o programa FM TV, que nos apresentou a linguagem estética inovadora dos vídeos-clipes, não perdia um.

E os penteados? Pra mim, com cabelos pixaim, não dava pra seguir a moda RPM, um sucesso simbólico da cultura ocidental. Quanto às roupas, tampouco...

Só dava pra usar mesmo as roupas que minha mãe comprava, nada demais, porque eu era muito "certinho" e já estava aculturado pelo sistema católico. 

Lembram-se do moonwalker do rei do pop?

Certa vez, na semana de lançamento do vídeo clipe, abri a janela do apartamento em que morava na Bolivar de Abreu, no 3º andar, e pude contemplar os terraços da velha Big Field com jovens imitando o passo do Michael...

Velha década de 80...

E os lugares onde a cena e o folclore local aconteciam? Os clubes Asa Branca e Nacional; a discoteca Aquárius, a boate Luar, a pizzaria Carolina e o bar Carne Seca; a feirinha e o ponto de encontro na esquina da Avenida Campo Grande, onde se reuniam punks, cabeludos, roqueiros... 

Cenários inesquecíveis como o morro do Padre, o Parque Infantil e as redondezas do Hunney Everest Piovesan, o Polivalente, que serviram de fundo aos dramas juvenis da época...

Foi tudo tão marcante que lembramos até hoje...

E ainda havia as rixas entre as turmas dos bairros vizinhos. Tínhamos os punks de Vila Isabel e o pessoal do outro lado da BR. Tínhamos os rockers de Jardim América e Alto Laje. Esses, criticavam o pessoal "da Expedito Garcia", e degladiavam com os jovens de Itaquari, todos sentindo-se discriminados pelo Centro cultural e comercial formado por Campo Grande.

O pessoal de Jardim América guarda um grande rancor da "turma da Expedito Garcia", rsrsrsrs...

E mais, havia a "racinha de Teci", os cavaleiros de Ico, e tantos outros clãs de nosso folclórico underground.

Mas foi através da música que me identifiquei com o submundo da cultura de rua. Foi em 1985, aos 15 anos, que tive contato com meu primeiro “instrumento”, uma guitarra azul de plástico que tinha quatro cordas de náilon, daquelas que vendem nos armarinhos, um simples brinquedo.

As tarraxas, é claro, só serviam para segurar as cordas, elas não afinavam. Mesmo assim, eu criava uma regulagem própria e conseguia tirar uns sons parecidos com “música japonesa”. 

Esse brinquedo, ganhei de minha mãe porque um amigo já tinha ganhado a guitarra de plástico dele.

Logo conseguimos guitarras de verdade. Ele, com uma guitarra marca Golden com captadores originais, e eu com uma guitarra feita por ele mesmo, modelo em fly em V - acho que foi a primeira de tantas fabricadas por ele, o Sandro Dezan.

Pra me dar uma força, ele colocou captadores novos na Goldem e instalou os originais na minha fly em V... aí o som ficou bem melhor, porque antes parecia um monte de abelhas zunindo.

Hoje tenho duas de suas guitarras, ambas em madeira de lei e com captadores Seymour Duncan JB e Dimarzio Super Distortion.

Mas com a fly em V fiquei um bom tempo até a substituir por uma Gianini Stratocaster branca, em 1990, comprada na Mesbla. A fly em V entreguei aos punks da Serra que estavam montando uma banda. Nunca mais vimos a guitarra.

Ainda vislumbrando o mundo do rock, nos reuníamos na casa de amigos e tocávamos muita “música japonesa”, era massa...

Revezávamos entre guitarra base e guitarra solo.

Depois, juntaram-se outros amigos na bateria de caixas de sapatos e latas de conservas... 

Com tanta sede de música, logo evoluímos para o blues. Natural, pois todos sabemos que depois da “música japonesa”, vem o blues, rsrsrsrs. 

Mas a maturidade não demorou a chegar.

Conhecemos as escalas, os acordes, as notas e os sons através de pentagramas de escalas que vinham do Rio de Janeiro, pois na época, sem internet, o acesso a conteúdos era muito difícil.

Mas o silêncio, esse companheiro tão precioso das melodias, esse não conhecemos... 

Desde aquela pequena guitarra azul de plástico com quatro cordas de náilon, nunca mais a música e o rock and roll deixaram minha vida.

Agora posso dizer: daqui pra frente vou lhes contar algumas histórias. Histórias de uma Cariacica underground, que cresceu e cultivou a música, a arte, a contestação, a juventude...

Fomos uma geração que produziu e ainda produz cultura, com nosso próprio orgulho de periferia.

Fodam-se os rocks da crise porque não há crise no rock, como bem lembrou nosso amigo Alberto Vidal.

Então, atenção aos loucos e sedentos por rock, lhes apresento, Cariacica Underground, a história de nossa geração.





2 comentários:

  1. Pessoal, complementem as histórias e enriqueçam nosso registro. Fiquem à vontade...

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  2. "as redondezas do Hunney Everest Piovesan, o polivalente, que serviram de fundo aos dramas juvenis da época..."

    Chorei *---*

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